MULHER COM MORTE CEREBRAL É MANTIDA VIDA PARA EVITAR ABORTO NOS EUA
- GUIA MIRAI
- 30 de mai.
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Caso Adriana Smith: debate ético e legal em Atlanta mobiliza EUA

A enfermeira Adriana Smith, de 30 anos, permanece conectada a aparelhos de e vital há mais de 90 dias após ter sido declarada com morte cerebral no Hospital Universitário Emory, em Atlanta, na Geórgia. O caso, que envolve uma gravidez de nove semanas no momento da internação, reacendeu debates sobre ética médica, direitos reprodutivos e legislação antiaborto nos Estados Unidos.
Smith sofreu tromboses cerebrais no início da gestação, que evoluíram para morte encefálica. Apesar disso, a equipe médica decidiu manter seu corpo em e vital para permitir o desenvolvimento do feto, apelidado pela família de “Chance”. Atualmente, a gestação está em torno de 22 semanas. A expectativa da equipe médica é manter o e até a 32ª semana, quando o bebê poderia nascer por cesariana.
A decisão do hospital é influenciada pela Lei LIFE da Geórgia, que proíbe o aborto após a detecção de batimentos cardíacos fetais, geralmente por volta da sexta semana de gestação. Embora o procurador-geral do estado tenha declarado que a interrupção do e vital em casos de morte cerebral não seria considerada aborto, a interpretação da legislação permanece controversa e tem gerado dúvidas na equipe médica.
A família de Adriana contesta a decisão médica. Sua mãe, April Newkirk, afirmou que a situação é “torturante” e que a decisão de manter a gestação deveria ter sido da família. “Ela está respirando por máquinas, mas não está mais aqui. Esta decisão deveria ter sido nossa”, disse April.
Além do sofrimento emocional, a família enfrenta preocupações com a saúde do feto, diagnosticado com hidrocefalia — uma condição que pode causar graves deficiências ou até ser fatal.
O caso expõe questões delicadas sobre a autonomia das mulheres, a interpretação da legislação estadual e as implicações éticas para profissionais de saúde. Especialistas em bioética alertam que, em cenários como este, os corpos de mulheres mortas podem ser usados como “incubadoras”, gerando controvérsias sobre direitos reprodutivos e decisões familiares.
A situação de Adriana também chama a atenção para disparidades raciais na saúde materna nos EUA. Mulheres negras têm taxas de mortalidade materna mais altas e menos o a cuidados médicos de qualidade, segundo dados federais.
Este não é o primeiro caso nos Estados Unidos a gerar debate público. Em 2014, Marlise Muñoz, no Texas, foi mantida em e vital contra a vontade da família, também devido a leis estaduais restritivas. Após intensa disputa judicial, a família obteve autorização para desligar os aparelhos.
O caso de Adriana Smith chega em um momento de forte polarização no país, após a revogação da decisão Roe v. Wade pela Suprema Corte em 2022. Organizações de direitos civis e grupos de bioética afirmam que legislações restritivas como a da Geórgia podem ferir a dignidade e os direitos das mulheres, sobretudo em casos complexos como o de morte cerebral.
A família de Adriana Smith segue buscando alternativas legais para encerrar o e vital, enquanto o país acompanha, com atenção, os desdobramentos éticos, jurídicos e sociais desse caso que coloca em xeque o equilíbrio entre a vida fetal e a autonomia das mulheres.
GUIA MIRAI